quarta-feira, 5 de novembro de 2008

On the road

Renuncio à velha tentativa de renúncia,
Descarto minhas novas asas,
tão antes sonhadas.
E então descanso os braços sobre minha estranha obra,
sento-me à margem do tabuleiro do jogo
que tudo é.
Lançam-se os dados, apenas sorrio
Tão calma, como quem se admite errante.

É longa a minha estrada e eu não temo
Conheço armadilhas de outras viagens
Eu vou subindo árvores, olhando as ondas
Tocando cicatrizes, lembrando dos corais
Sabendo que aquela mesma dor hoje é banal.

Espero o próximo trem, pra qualquer lugar
Sequer me aflige o quanto ele possa demorar
Distraem-me memórias, que despedaço agora
Só pra passar o tempo, porque já não me importa.

Penso

Penso sem querer pensar em empecilhos
Te penso possível, e assim eu creio.
Penso como se estivesse ali vivendo
Te vivendo, te tendo, tão te entendendo...
Penso teu silêncio, em nada mais que isso
Essas mil palavras nesses poucos gestos
Penso o corpo inteiro a me pensar sereno
A despejar-se ilimitado nas minhas manhãs.

Penso na boca em que mora o beijo
Penso em, sem relógio, descansar ali.
Ouço a voz sutil da mesma boca santa
Quase dentro de mim,
me despertando ilícita.
Sob o mesmo sol, agora diferente
O apenas nosso psicodélico poente
Eu penso...

A mesma mesa
A gente diferente
Bebendo nossos segredos
Tragando as tais palavras
Comemorando absurdos...
De corpo inteiro, de toda a alma que ele é.

Ondas de ressaca

Lançada em ondas de ressaca por teu mais breve silêncio
Prometo abandonar meus vícios, merecer o teu amparo
Pra ouvir de novo o teu louco falar sem respirar
Não ser antinatural ao encenar o tolo ensaiado.

Mas não renuncio ao querer sempre mais teu desespero
De correr em meu encontro pra dizer de teus loucos dias
Em busca de um porto seguro que se assegura em teu regaço
Que também te busca ofegante a cada pequeno instante ausente.