sábado, 11 de outubro de 2008

Cegueira

Céus-testemunhas me analisam, zombam de mim

Me julgam, e me absolvem por piedade

Pobre mortal de sóis, luas e ascendentes em conflito.


Seus azuis gelados me descobrem as armadilhas

As que preparo, onde caio, das que fujo

Falhas pequenas minhas que não vejo ou que finjo.


E eu
que me sei dura, estranha, às vezes louca

A secar memórias no sol leve de meu outono

Agradeço pelos meus limites, que não esqueço

Agradeço o fato de eles serem flutuantes.


E absolvida por ser franca e um pouco cega

Desvio o olhar de cínico pudor dos que me temem

Eu que só mato de mim o que me invalida

Eu que só quero parir verdades relativas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Estampas

Minha roupa estampada

Minha cara pintada e mais magra

Todos os compromissos do ano

Toda falta de tempo

Todos os deveres

e os direitos que não conheço

Nada além no espelho

de profundo

Tudo e nada igual à menina de antes.


E o meu jeito audacioso

E a falta de medo estampada nos gestos

E também nas palavras e no seu tom aberto

Todas as verdades que eu finjo que invento

Meus recomeços que nunca começam

Nunca tão parecida

À sempre tão fugidia

À mesma menina de sempre

Ao sempre de todos os antes.

Eternidade

Prevejo impulsos irreversíveis

Indomináveis

Prevejo como se eu tivesse esse poder

Vidente

Te sinto, te choro, te odeio

E entendo

Que eu não poderia invadir o teu sentido

Ou te impedir

Ou te pedir

Ou te mandar.


Prevejo a minha inconsciência

E a minha decência em aceitar o teu melhor

Enquanto por dias, ou meses, ou anos

O "nós dois" faleça

Vá desfalecendo


Mas volto pra mim com a cara exausta

O suor no rosto

Traços de pavor

E morro de rir desse louco delírio

Porque sei de nós.

Dessa nossa eternidade.

Nova Babel

Paciente,

escuto a gritaria do teu silêncio

o desespero estranho de teus olhos fugidios

e toda a falta de motivo pr'esses gritos

Paciente ausência de motivos pra calá-los.


Chão e teto a buscarem-se loucos

A nos fecharem

E cada vez mais agudo o teu silêncio

Cada vez ainda mais gritantes esses olhos

E fugidias as nossas presenças.


Fingindo-me alheia a esse teu desespero

Espero e me ausento de ti

Neste mesmo recinto

Mas encaro esta fuga,

e encaro estes olhos


E ouvindo o silêncio

Eu crio o descompasso

Eu berro em nome do fim

Eu berro em nome da queda

E crio uma nova Babel.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sentido?!


Dezenas de frases em contra-capas de velhos cadernos
Parecem clamar pra que eu as tome como verdades
Milhares de conclusões inevitáveis me enlouquecem
Relativizam qualquer axioma ou postulado.

E eu, que só quero um sentido pra esses dias absurdos
Tomo o absurdo como a lei irrevogável desses dias
A falta de sentido faz-se a descoberta mais solene
Faz tudo parecer um sonho, estranho de tão nítido.

Cores do sonho são criações minhas, filhas rebeldes
Que levam tais frases a se conformarem ofegantes
Que se tornam amantes do absurdo que as intensifica e alegra
Fazendo assim do mundo a própria descoberta
pra que eu feche os meus cadernos e ria de tudo.

Crianças em teus olhos

Tuas crianças, eu amo como filhos
Sem perigo iminente ou ameaça possível
Esses teus brinquedos sérios, segredos adultos
Esses teus risos descontrolados.

São teus olhos amigos
Que sem saber onde pousar
amansam ares.

Teus olhos lentos
Que sem se darem conta
erguem ondas.

Par de coisas tuas que amo
Tuas crianças que habitam olhares
Essa tua paranormalidade
Que se sabe louca, que brinca escondida
No fundo das íris de uniformes negros,
tuas professoras.

No Palco da Rotina

Presente inesperado:
cortinas abertas
Você espetáculo
bem na minha esquina

Seus olhos frágeis
quebrando ondas
Seu corpo leve
me dando banda

Eu subindo o palco
Me desdobrando
Eu me vendo insana
E nem assim crendo...