sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Meu céu, meu inferno
Tua presença é um céu perfeito
Com anjos que dançam, luzes que ofuscam
Cânticos suaves e climas etéreos.
O teu mistério, silêncio, tua distância
Teu magnetismo é um inferno inteiro
Que arde sem pena, alucina e dá medo
Que me traz um desejo louco de bacante.
Você.
E
Fere os
É
É a
Desvios
E
Se existe
Acreditei
E
Sonhei
Futuro do Pretérito
Beijaria-te
Fosse
E
Amaria-te
Tocaria-te
Fosse o
E
Fosse
Choraria tua
se
se
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Delírio
de quem vive à míngua, à espera de esmolas
E me evita com o medo
de quem tem pesadelos e teme o uivo do vento
Mas quando se aproxima deixa rastro
Em minha cama, corpo, sono, sonho
Quando fica fraco se revela
Louco, livre, faminto, febril.
Eu te observo com a sede
de quem não aprendeu a viver no deserto
E me escondo sob o véu
de quem quer ver sem poder ser vista
Mas quando te sinto perco o tino
Esqueço pudores, pecados, presságios
Quando fico fraca me revelo
Mergulho, apaixono, abstraio, deliro.
domingo, 9 de novembro de 2008
Ébria
Me traz teu cheiro de anjo caído
Me toca a pele, boca, cabelos, roupa
Desenha em mim teu rosto com cara de nada.
O gosto na minha boca e o meu corpo fraco
São a ressaca que você deixou como marca
Assinatura tua na mulher de ontem, embriagada
Tão doidamente ébria de você, e nunca saciada.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
On the road
Descarto minhas novas asas,
tão antes sonhadas.
E então descanso os braços sobre minha estranha obra,
sento-me à margem do tabuleiro do jogo
que tudo é.
Lançam-se os dados, apenas sorrio
Tão calma, como quem se admite errante.
É longa a minha estrada e eu não temo
Conheço armadilhas de outras viagens
Eu vou subindo árvores, olhando as ondas
Tocando cicatrizes, lembrando dos corais
Sabendo que aquela mesma dor hoje é banal.
Espero o próximo trem, pra qualquer lugar
Sequer me aflige o quanto ele possa demorar
Distraem-me memórias, que despedaço agora
Só pra passar o tempo, porque já não me importa.
Penso
Te penso possível, e assim eu creio.
Penso como se estivesse ali vivendo
Te vivendo, te tendo, tão te entendendo...
Penso teu silêncio, em nada mais que isso
Essas mil palavras nesses poucos gestos
Penso o corpo inteiro a me pensar sereno
A despejar-se ilimitado nas minhas manhãs.
Penso na boca em que mora o beijo
Penso em, sem relógio, descansar ali.
Ouço a voz sutil da mesma boca santa
Quase dentro de mim,
me despertando ilícita.
Sob o mesmo sol, agora diferente
O apenas nosso psicodélico poente
Eu penso...
A mesma mesa
A gente diferente
Bebendo nossos segredos
Tragando as tais palavras
Comemorando absurdos...
De corpo inteiro, de toda a alma que ele é.
Ondas de ressaca
Prometo abandonar meus vícios, merecer o teu amparo
Pra ouvir de novo o teu louco falar sem respirar
Não ser antinatural ao encenar o tolo ensaiado.
Mas não renuncio ao querer sempre mais teu desespero
De correr em meu encontro pra dizer de teus loucos dias
Em busca de um porto seguro que se assegura em teu regaço
Que também te busca ofegante a cada pequeno instante ausente.
sábado, 25 de outubro de 2008
Mais que menina
O que eu soube de mim?
Um sorriso fingido
Uma porta trancada
Uma chave perdida
Eu não soube mais nada.
Da menina que eu sou:
Uma rosa sem pétalas
Um olhar sem destino
Meu espelho quebrado
Corpo tenso e cansado.
Houve um toque de mestre
De menino sabido
Que nunca teve a chave
Que sempre teve força
Que derrubou a porta.
Que me invadiu sem medo
Que me viu sem pudor
Tão mulher, tão crescida
Muito mais que uma menina
Nunca mais tão pequenina.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Admirável Velho Mundo
Me traz o medo da madrugada
Eu que não durmo direito,
eu que não sonho mais nada.
Espero o azul do céu claro
Pintar minha cortina amarela
Esboço um sorriso safado
e corro pra abrir a janela...
Mas tudo permanece igual
ao ontem tão torpe e tão sujo
Ao sempre demente banal
Admirável velho mundo.
sábado, 18 de outubro de 2008
Cinza
Sem saber
Sem querer saber onde ela dá
Dias me mastigam, me trituram, me digerem
Já que me recuso a engolir mais do seu mesmo.
Ando sendo levada pelas coisas
Perdendo o sono porque não sei mais sonhar
Hoje eu só vejo, toco, ouço, cheiro e engulo
Sem sentir o paladar, porque tudo é fugidio.
Todo substrato abstrato se esconde
No meio dos livros, teorias relativas
Toda poesia se traveste de cinza
Da concretude cinza da cidade e seu relógio.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Sua
Trazem novas histórias:
Teus trejeitos moleques
Minha cara pedinte...
O teu corpo inerte
Me apavora e me chama
e eu me assusto comigo:
pouco minha e tão sua.
Esses dias estranhos
Trazem loucas memórias:
Os seus olhos de susto
Minha boca com sede...
Tua expressão distante
Me aprecia e me instiga
Tua essência tão próxima
Me apaixona e sacia.
domingo, 12 de outubro de 2008
Você
Você, que faz do tempo um pássaro
Você Sol, de raios suaves pros olhos
Você que eu olho direto e encaro e me vejo
Você que veio em passos cuidadosos, sem barulho
Você que eu amo com pressa
Pra ter logo amanhãs e histórias nossas
Você que eu sinto fibra a fibra
Pra não perder nenhum dos mínimos detalhes
Você que eu vou decifrando
Você que vai me devorando
Você que vem me recriando
O Novo
Marco de vida nova:
As coisas tuas na minha casa
O teu descanso em minha poltrona
O teu abraço com asas nas esquinas de meu país.
Meu pedaço de mundo novo
Meu prenúncio pra um sonho não-inventado
Pra um velho sonho que tinha medo
Da chuva, do tédio, do cansaço.
Olhos novos, presente eterno
Nova casa, coisas nossas
Descanso duplo, de qualquer lugar
De um novo país, desse nosso novo mundo.
sábado, 11 de outubro de 2008
Cegueira
Céus-testemunhas me analisam, zombam de mim
Me julgam, e me absolvem por piedade
Pobre mortal de sóis, luas e ascendentes em conflito.
Seus azuis gelados me descobrem as armadilhas
As que preparo, onde caio, das que fujo
Falhas pequenas minhas que não vejo ou que finjo.
E eu
que me sei dura, estranha, às vezes louca
A secar memórias no sol leve de meu outono
Agradeço pelos meus limites, que não esqueço
Agradeço o fato de eles serem flutuantes.
E absolvida por ser franca e um pouco cega
Desvio o olhar de cínico pudor dos que me temem
Eu que só mato de mim o que me invalida
Eu que só quero parir verdades relativas.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Estampas
Minha roupa estampada
Minha cara pintada e mais magra
Todos os compromissos do ano
Toda falta de tempo
Todos os deveres
e os direitos que não conheço
Nada além no espelho
de profundo
Tudo e nada igual à menina de antes.
E o meu jeito audacioso
E a falta de medo estampada nos gestos
E também nas palavras e no seu tom aberto
Todas as verdades que eu finjo que invento
Meus recomeços que nunca começam
Nunca tão parecida
À sempre tão fugidia
À mesma menina de sempre
Ao sempre de todos os antes.
Eternidade
Prevejo impulsos irreversíveis
Indomináveis
Prevejo como se eu tivesse esse poder
Vidente
Te sinto, te choro, te odeio
E entendo
Que eu não poderia invadir o teu sentido
Ou te impedir
Ou te pedir
Ou te mandar.
Prevejo a minha inconsciência
E a minha decência em aceitar o teu melhor
Enquanto por dias, ou meses, ou anos
O "nós dois" faleça
Vá desfalecendo
Mas volto pra mim com a cara exausta
O suor no rosto
Traços de pavor
E morro de rir desse louco delírio
Porque sei de nós.
Dessa nossa eternidade.
Nova Babel
escuto a gritaria do teu silêncio
o desespero estranho de teus olhos fugidios
e toda a falta de motivo pr'esses gritos
Paciente ausência de motivos pra calá-los.
Chão e teto a buscarem-se loucos
A nos fecharem
E cada vez mais agudo o teu silêncio
Cada vez ainda mais gritantes esses olhos
E fugidias as nossas presenças.
Fingindo-me alheia a esse teu desespero
Espero e me ausento de ti
Neste mesmo recinto
Mas encaro esta fuga,
e encaro estes olhos
E ouvindo o silêncio
Eu crio o descompasso
Eu berro em nome do fim
Eu berro em nome da queda
E crio uma nova Babel.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Sentido?!
Dezenas de frases em contra-capas de velhos cadernos
Parecem clamar pra que eu as tome como verdades
Milhares de conclusões inevitáveis me enlouquecem
Relativizam qualquer axioma ou postulado.
E eu, que só quero um sentido pra esses dias absurdos
Tomo o absurdo como a lei irrevogável desses dias
A falta de sentido faz-se a descoberta mais solene
Faz tudo parecer um sonho, estranho de tão nítido.
Cores do sonho são criações minhas, filhas rebeldes
Que levam tais frases a se conformarem ofegantes
Que se tornam amantes do absurdo que as intensifica e alegra
Fazendo assim do mundo a própria descoberta
pra que eu feche os meus cadernos e ria de tudo.
Crianças em teus olhos
Sem perigo iminente ou ameaça possível
Esses teus brinquedos sérios, segredos adultos
Esses teus risos descontrolados.
São teus olhos amigos
Que sem saber onde pousar
amansam ares.
Teus olhos lentos
Que sem se darem conta
erguem ondas.
Par de coisas tuas que amo
Tuas crianças que habitam olhares
Essa tua paranormalidade
Que se sabe louca, que brinca escondida
No fundo das íris de uniformes negros,
tuas professoras.
No Palco da Rotina
cortinas abertas
Você espetáculo
bem na minha esquina
Seus olhos frágeis
quebrando ondas
Seu corpo leve
me dando banda
Eu subindo o palco
Me desdobrando
Eu me vendo insana
E nem assim crendo...